Casa costa

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Estudo em casa: Costa garante que todos os alunos terão meios digitais no próximo ano lectivo

O primeiro-ministro, António Costa, defendeu, esta quarta-feira, que o projeto de telescola, Estudo em Casa, é uma ferramenta "para criar uma escola do tempo de hoje, que chega com os conteúdos e as tecnologias de hoje, à casa de cada um", apesar dos professores "não terem abandonado os seus alunos". Numa visita aos estúdios na RTP onde o projeto é gravado, o líder do Executivo disse também que a necessidade de dar este passo surgu por se saber que "há um conjunto de alunos que não tem acesso a plataformas digitais e por isso era necessário criar uma ferramenta que chegasse mesmo a todos".

Para o próximo ano letivo, o primeiro-ministro deixou uma garantia: vai estar assegurado o acesso digital a todos os alunos. "Para que todos, estejam onde estejam, vivam onde vivam, possam ter acesso aos meios digitais", assegurou.

Elogios aos professores foram deixados também pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que explicou ainda que o Estudo em Caso é um conjunto de " blocos pedagógicos, temáticos, que vêm acompanhados de um guião que estará disponível para todos os professores poderem complementar". "Os professores são os verdadeiros artífices tanto deste milagre como de todos os milagres que estão a acontecer lá em casa todos os dias", referiu.

A pandemia da covid-19 já causou mais de 126 mil mortos e infetou quase dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, sendo atualmente os Estados Unidos o país que regista o maior número de mortes e de infetados.

O continente europeu, com mais de 996 mil infetados e mais de 84 mil mortos, é o que regista o maior número de casos, e a Itália é o segundo país do mundo com mais vítimas mortais, contando 21.067 óbitos e mais de 162 mil casos confirmados. Portugal tem 567 mortos relacionados com o covid-19 e 17.448 casos positivos.

Tribuna Expresso

Habituado a driblar adversários, o antigo futebolista e agora comentador Cândido Costa está há vários dias cercado por um oponente invísivel num terreno fechado, enquanto espera pela chegada do seu pequeno Salvador que vem a caminho

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Vive em que zona do concelho?
Eu moro no Furadouro, no sul do concelho. É a zona balnear de Ovar. Sempre que quero dar um mergulho, tenho a praia mesmo ao lado.

É algo que costuma fazer frequentemente?
Desde miúdo. Eu nasci em São João da Madeira, mas sempre tive uma ligação muito forte ao Furadouro. Os meus pais, desde que eu era pequeno, faziam campismo aqui. Foi aqui que fiz amigos, foi aqui que comecei a sair à noite. E, depois, quando vim de Lisboa para jogar no F.C. Porto, comprei casa no Furadouro. Já cá vivo há mais de 20 anos, desde 1999.

Vive com quem?
Vivo com a minha esposa. Vou ser pai. A Cidália está grávida de cinco meses e meio. Tenho também dois filhos do primeiro casamento que vivem com a mãe e não estão em Ovar.

Passou uma semana desde que foi montada a cerca sanitária em Ovar. Como tem sido viver estes dias num concelho onde foi decretado o estado de calamidade pública?
Há uma série de acontecimentos algo caricatos. Eu e a Cidália decidimos que a melhor altura para fazer uma semana de férias seria este mês, porque o menino — vai ser um rapaz — nasce em julho. Achámos que era um plano sustentado, até pelas nossas obrigações profissionais e uma vez que não iríamos ter hipótese disso no verão. Fomos para os Açores. Estávamos lá quando os primeiros casos começaram a surgir em Portugal. Tínhamos a viagem de regresso marcada para dia 15, mas acabámos por antecipar quando percebemos o que estava a acontecer no país. Curiosamente, saímos do ambiente paradisíaco dos Açores, que ainda não tinha nenhum caso confirmado, e viemos colocar-nos aqui no epicentro da pandemia. Chegámos a casa na sexta-feira, 13 de março.

Estão em isolamento desde essa sexta-feira 13?
Estamos metidos em casa desde então. A situação de isolamento ficou, depois, ainda mais agravada com esta quarentena musculada, que nos remete para um confinamento total, desde que foram fechadas as fronteiras de Ovar e estamos limitados geograficamente pelas forças policiais.

Fazem apenas as deslocações estritamente indispensáveis?
No primeiro fim de semana, depois de chegarmos dos Açores, ainda nos aventurámos a fazer umas caminhadas, porque como a Cidália está grávida convém mexer-se um bocado. Deixámos de o fazer quando vimos que a polícia estava a ter uma postura de aconselhamento à população — através dos veículos que circulam pelas ruas emitindo avisos com megafones — pedindo às pessoas para que fiquem em casa e evitem deslocações, a não ser que seja para adquirir bens de primeira necessidade. Quando temos de sair para comprar alimentos, como foi o caso desta manhã, metemo-nos no carro e vamos a uma superfície comercial muito próxima de casa, mas levamos máscaras e luvas connosco. Quando voltamos, fazemos tudo aquilo que é recomendado. Deixamos o calçado lá fora e lavamos imediatamente as mãos. Tentamos ter o máximo de cuidado possível.

Das poucas vezes que sai à rua, qual é o cenário que vê? As pessoas estão a acatar as recomendações?
Ainda hoje de manhã, quando passámos de carro na avenida principal, havia algumas pessoas. Se me perguntares um número, eu diria 30 ou 40 pessoas ao longo da avenida. Achei estranho e preocupa-me um pouco. Ainda assim, noto que as pessoas foram transformando os seus comportamentos. Se quando cheguei dos Açores via uma ou duas pessoas com máscara, hoje vejo uma ou duas pessoas sem máscara. A população, paulatinamente, está mais consciente de que este é um inimigo terrível.

Como era um dia normal na sua vida? Que hábitos tinha dos quais agora se vê privado?
Tenho uma vida perfeitamente normal, juntamente com a minha companheira. Não fazemos nada de excêntrico ou transcendente. Ao fim de semana, tentávamos sempre acordar cedo, para ir beber um cafézinho junto à avenida, ver o mar, fazer uma caminhada, comprar um peixinho para grelhar ao almoço e à tarde, se estiver agradável, ir um bocadinho à praia. O que custa mais agora é ter aqui o mar tão perto — vivemos a 500 metros — e não poder tirar partido disso. Isso é o que me tem custado mais. Tem-me importunado muito pensar quanto tempo precisaremos para nos livrarmos destas amarras. Estamos todos cientes de que é preciso ficarmos separados. Mas de quanto tempo vamos precisar para que sejamos capazes de nos aproximar novamente?

Acha que isto pode deixar marcas psicológicas que vão mudar a sociedade?
Vai ter um impacto fortíssimo na forma como as pessoas se relacionam. Não tenho a menor dúvida. Podemos voltar a ser capazes de nos abraçar, mas acho que vai levar algum tempo. O medo é um adversário que teremos de vencer todos juntos. Prevejo um aumento de quadros depressivos em grande parte da população portuguesa.

E como é que aí em casa vai mantendo a saúde mental? Como é para um rebelde viver numa quase reclusão?
É terrível, mas eu tenho uma ótima relação com a minha mulher e isso ajuda muito. Estou sempre a apoiá-la em tudo e a fazer o que ela me pede, até para limpar a minha cabeça e não ficar atrofiado. É sempre uma festa entre os dois. Juro que não estou a dizer isto sob coação. [risos] Tomamos o pequeno-almoço juntos, depois vamos para a sala, abro o computador e dedico algum tempo para estudar a atualidade desportiva, de forma a estar sempre informado, porque posso ser chamado a intervir para fazer algum direto. Vemos umas séries, fazemos umas brincadeiras para passar o tempo e cantamos karaoke caseiro. Fazemos também algumas sessões de fitness, até porque tenho alguma tendência para ganhar peso. Depois de ter deixado de jogar, perdi a intensidade física e eu gosto muito de comer [risos]. Andava a equilibrar isso com um dia-a-dia ativo, através de umas corridinhas. Sinto muita falta disso. Mas este é também um momento que nos permite, a todos, refletir sobre a velocidade em que vivemos. Estes dias que nos obrigam a reduzir o motor e a andar em ralenti, humanizam-nos mais. Estávamos a ficar muito industrializados. Serve para repensar as nossas prioridades. O valor que dou agora às pessoas — e que se calhar há uma semana não dava — é muito maior.

De que forma isto também afetou a sua vida profissional? O que faz atualmente?
Tenho uma vida muita ocupada com duas profissões e sinto saudades disso. Esta calmaria faz-me alguma confusão. Inicialmente até foi agradável, mas agora já começo a desesperar. [risos] Eu trabalho como gestor comercial na empresa de material escolar do meu irmão, embora não seja a tempo inteiro, porque todas as terças, quartas e quintas estou em Lisboa para fazer comentário desportivo. Além disso, o facto de a Cidália estar grávida também me traz responsabilidades acrescidas. A minha vida, por norma, é sempre a mil e de repente tudo pára. De repente, percebemos o quanto somos frágeis. Estamos completamente à mercê da natureza e das vicissitudes da vida. A minha primeira preocupação são as pessoas, aquelas de quem gosto ou aquelas que podem estar a passar por grandes dificuldades. É isso que me apoquenta neste momento.

Tem amigos ou pessoas próximas infetados?
Felizmente, não. Mas tenho os meus pais retidos em Miami. Eles foram lá para assistirem ao nascimento da filha do meu irmão. Estão lá há mais de 20 dias, deveriam ter regressado este domingo, mas não podem. Outra parte também complicada é o facto de a Cidália ter uma família muito grande, com 11 irmãos, que neste momento não pode visitar. Ela é muito ligada aos pais, que já têm alguma idade, e isso custa-lhe imenso.

Na carreira de um futebolista são muito poucos os momentos de situação isolada. Agora, fora das quatro linhas, está isolado mas rodeado por um adversário invisível. Qual é a sua estratégia para vencer este desafio?Todas as guerras que travei na minha vida foram sempre contra alguma coisa palpável. Neste caso, é uma guerra quase inglória, porque não dá para enfrentar o adversário olhos nos olhos. Em qualquer luta o que é que se pede? Foco, bravura, coragem, força, destreza, preparação, sentimento espartano. Nesta batalha pedem-nos para ficar em casa de pijama a ver séries. Tenho dias em que estou mais confiante, outros em que estou completamente borrado de medo. Faço filmes na minha cabeça, penso se o meu filho vai nascer num ambiente de degeneração humana e de morte.

Como se chama o filho que vem a caminho?
Vai chamar-se Salvador.

Um nome bastante apropriado.
É um nome bíblico. A nós, irá salvar-nos certamente.

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Olivier da Costa: "Sei o que é uma casa de prostitutas e o Guilty nunca foi isso"

Olivier da Costa: "Sei o que é uma casa de prostitutas e o Guilty nunca foi isso"

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A mais recente abertura da marca foi o Guilty, no Parque das Nações, que Olivier quer transformar numa espécie de sportsbar

Tínhamos marcado encontro para as 13 horas no Guilty do Parque das Nações, em Lisboa. Não chegou a horas, mas fez questão que não nos faltasse comida. "O chef está um bocadinho atrasado mas mandou trazer umas coisinhas para a mesa", dizem-nos, enquanto nos pousam um carpaccio de polvo, uma focaccia recheada de queijo e umas asas de frango com molho picante.

Com Olivier da Costa é assim. Nunca falta comida à mesa e essa comida tem que lhe preencher as medidas. "É por isso que nunca poderia abrir um restaurante saudável", conta à MAGG, ainda que admita que está a precisar urgentemente de perder peso.

Não será tarefa fácil quando se faz questão de provar tudo o que é escolhido para servir aos clientes. Inclusive a nossa salada. "Isso não está bom. Vou ter que ser eu a tratar disso".

Num ápice, levanta-se da mesa onde se senta estrategicamente de maneira a estar de frente para a sala e de olho em todos os funcionários, salta para a cozinha, pergunta onde estão os ingredientes e em dez minutos está pronta a salada que devia ter sido logo servida na primeira vez. "Está melhor, não está?"

E não é que estava? É que Olivier, 43 anos, ainda que agora mais conhecido como empresário, é cozinheiro. Nasceu no meio de panelas, não fosse ele filho de Michel, o primeiro chef a ganhar uma estrela Michelin em Portugal, e acredita que um dia vai morrer sentado à mesa de um restaurante.

Atualmente tem seis restaurantes sobre o seu comando, mas o caminho não é de estagnação. Em fevereiro abre o KOB no Porto e, em março, o Guilty. O Yakuza abre em Cascais em abril, o Guilty vai para obras, prepara uma aventura em parceira com a UberEats e garante que muito ainda se vai falar sobre a marca até ao final do ano. É que se até aqui o objetivo era ter muitos restaurantes abertos, o próximo é levá-los a Miami e Nova Iorque. "Estou farto de jogar o campeonato nacional, quero ir à Liga dos Campeões".

Estamos no Guilty, que o Olivier disse uma vez que foi criado para ser um Hooters [cadeia de restaurantes norte-americana de casual dinning] misturado com um Hard Rock Café, mas com boa comida. Conseguiu chegar a esse espaço?
Não quer dizer que não se coma bem no Hard Rock Café. No Hooters, por acaso, nunca comi. Mas a ideia era ser um sítio descontraído, com uma boa decoração, com bom serviço, com bom ambiente, com brincadeiras. Acho que conseguimos isso.

Que brincadeiras são essas?
Temos um hambúrguer gigante (quem conseguir comer numa hora não paga), temos a música do Super-Homem que toca sempre que alguém acaba esse hambúrguer, temos os batidos que são quase uma sobremesa.

Quando abriu, em 2011, Lisboa estava preparada para esse Guilty?
O Guilty parou Lisboa. Não havia nada do género na cidade. Foi um sucesso estrondoso, porque foi o primeiro restaurante que, a partir de determinada hora, virava discoteca.

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Teve problemas com a ASAE por causa disso.
Tive, porque não existia legislação para um espaço como o Guilty. Só que eu não posso ser prejudicado pelo meu sucesso. Fui absolvido [foi acusado do crime de desobediência qualificada por não ter cumprido uma ordem da ASAE que impedia a dança no seu estabelecimento] e a ASAE levou uma reprimenda grave. Podia ter ido mais além, mas não quis comprar essa guerra.

E para quem nunca foi ao Guilty, o que é que acontece lá?
Este, no Parque das Nações, é diferente. O original, na Avenida da Liberdade, tem três momentos: o de almoço, com menus executivos; o momento jantar mais cedo, com famílias e turistas; e depois tem o terceiro momento, que é a loucura, é Guilty.

O que é ser Guilty?
É pessoas a dançar em cima das mesas, é shots, é muita bebida, muito álcool, divertimento, luz apagada, música, fogo de artifício.

Continua a ter miúdas pagas para fazer presenças?
Não, deixei de fazer isso.

O Guilty era o sítio em Lisboa onde estavam as mulheres mais bonitas da cidade e as mais feias ou as casadas não queriam que os maridos lá fossem".

Porquê?
Criou uma imagem negativa. A presença dessas miúdas foi uma coisa que eu institui há uns anos porque é o que se faz lá fora, mas cá as pessoas não perceberam. Associavam isso a outro universo.

Ao da prostituição?
É assim: todas as discotecas em Lisboa fazem presenças, a diferença é que antigamente não havia Instagram e agora elas são todas instagramers. Agora já ninguém as chama putas. Criar rótulos em Portugal é muito fácil. O Guilty era o sítio em Lisboa onde estavam as mulheres mais bonitas da cidade e as mais feias ou as casadas não queriam que os maridos lá fossem. Por isso, era mais fácil dizer que aquilo era só putas para proibir os maridos de lá ir. É que essas miúdas giras, como imagina, não iam para lá vestidas de freiras e rezar. Eu tinha no Guilty as mulheres mais bonitas da cidade a trabalhar para mim e muitas das minhas Olivetes — era assim que eu as chamava — são agora atrizes, são casadas com futebolistas, estão bem na vida.

Faz questão de estar sempre rodeado de mulheres bonitas?
Para feio, gordo e careca estou cá eu.

Mas já assumiu que as mulheres são o seu único vício.
Gosto de mulheres bonitas, não quer dizer que tenha alguma coisa contra as feias [risos]. Mas gosto mesmo é dos meus filhos e de trabalhar.

Quantas vezes foi casado?
Casado mesmo, só uma.

E namoradas, dá para contar?
Não vou responder a isso.

Esse ambiente particular do Guilty afasta ou chama as pessoas?
Temos de tudo, porque o Guilty dá para tudo. É possível ir com os filhos durante o dia, que até têm lá um espaço para brincar, e ir à noite e ver pessoas a dançar em cima do balcão. Este, do Parque das Nações, não é assim, quero transformá-lo num sports bar, onde se alguém quiser ver criquet às três da tarde pode ver. O Guilty da Avenida vai sofrer obras e quero virá-lo muito para o futebol. Tenho já uma parceria com a Eleven Sports para a Liga dos Campeões, por exemplo. Vai ser mais um momento para o Guilty, além do habitual: as despedidas de solteiro, as festas de anos. Agora, os miúdos querem todos fazer festas de anos no Guilty.

O Guilty das Olivetes já foi?
Vai sempre haver miúdas giras no Guilty, porque é isso que é o motor do espaço. Mas a história das prostitutas magoa-me muito. Eu sei o que é uma casa de prostitutas e o Guilty nunca foi isso. Mas também lhe digo, essas miúdas que faziam presenças no Guilty iam para as outras discotecas e, aí sim, ganhavam comissão pelas garrafas que vendiam. Isso tem um nome: alterne. No meu restaurante, elas tinham direito a beber o que quisessem, mas fiz questão que nunca ganhassem à comissão, porque isso para mim é prostituição. Eu nem as obrigava a falar com os clientes, só falavam se quisessem. Prostituição no Guilty nunca aconteceu, posso garantir.

Falava há pouco que algumas dessas Olivetes são agora pessoas conhecidas e o Olivier é também conhecido por ser o chef dos famosos. É pura estratégia de marketing?
Foi uma coisa que foi acontecendo. Ainda no fim de semana, a Rita [Pereira] partiu tudo, não sei se viu. Mandou vir uma pizza do Guilty e entregou-a em direto ao Pedro Teixeira no "Dança com as Estrelas". A Rita, como muitas outras, é minha amiga, todas elas são Guilty.

Eles [os famosos] vão aos meus restaurantes, não pagam, fazem um post ou um storie no Instagram e pronto. A outras pessoas eles cobram por cada post, a mim não cobram mas comem de graça.

Elas pagam a conta?
Não. E isso não quer dizer que são prostitutas. Temos um grave problema neste País que é a inveja, como não conseguem chegar lá, preferem dizer mal.

Esse tipo de estratégia de pôr famosos a comer nos seus restaurantes funciona?
Os restaurantes estão cheios, aumentamos a faturação 10% ao ano. Acho que sim. Eu chamo a essas pessoas os meus embaixadores. Eles vão aos meus restaurantes, não pagam, fazem um post ou um storie no Instagram e pronto. A outras pessoas eles cobram por cada post, a mim não cobram mas comem de graça. Também não são muitos, talvez o Top ten nacional. Deixa ver. é a Rita Pereira, a Cláudia Vieira, o Lourenço Ortigão, a Kelly Bailey, a Vanessa Martins, a April Ivy. Afinal devem ser uns 15.

Independentemente do conceito do restaurante, o que é que ele tem que ter para ser seu?
Boa comida, boa luz, boa decoração, boa música. Ah, e estacionamento.

Como é que faz para escolher determinado espaço para abrir um restaurante?
Sinto. Se não sinto, vou-me logo embora.

"Não gosto nada de restaurantes com estrela Michelin, são uma seca"

Um filho do seu pai, podia ser outra coisa que não dono de um restaurante?
Gostava de ter sido um profissional de golfe muito rico.

Porque é que isso não aconteceu?
Porque me faltava o skill. Jogo bem golfe mas precisava de treinar muito para ser profissional. E eu sempre fui muito agarrado ao negócio.

Já nasceu empreendedor.
Sim, eu com 12/13 anos já faturava.

Qual foi o seu primeiro negócio?
Bombas de Carnaval. Não estou a brincar, foi mesmo. Mandava vir de França uma dinamitezinha e vendia na escola aos meus amigos. Fui apanhado com o equivalente a duas dinamites de pólvora na mochila. Só me safei porque a minha avó era professora na escola. Depois passei a vender T-shirts, com 14 anos. Ia buscar T-shirts com defeito e vendia-as nas escolas. Comprei a minha primeira mota com esse dinheiro.

E qual foi o primeiro negócio ligado à comida?
Foram os cabazes de Natal. Fiz isso desde os 17 anos, até que abriu o El Corte Inglés a prestar o mesmo serviço.

Ainda cozinha?
Sim, bastante até. Eu até nem gosto que cozinhem para mim, prefiro ser eu a fazer a minha própria comida.

Não gosto nada de restaurantes com estrela Michelin, são uma seca. É uma barrigada desnecessária de comida, uma grande misturada, acabas sempre mal da barriga no dia seguinte."

O que gosta mais de comer?
Eu sou muito carnívoro. É carne, massas. São coisas que adoro, mas não posso. Bati no fundo, preciso de emagrecer.

Ter um pai a ganhar a primeira estrela Michelin em Portugal deu-lhe a ambição de querer chegar a esse patamar também?
Nunca. Não gosto nada de restaurantes com estrela Michelin, são uma seca. É uma barrigada desnecessária de comida, uma grande misturada, acabas sempre mal da barriga no dia seguinte.

Sente-se integrado num grupo onde estão chefs como o Avillez ou o Sá Pessoa?
Não. Eu sou um empresário, cozinheiro e restaurateur, eles são cozinheiros. Ponto.

Sente-se acima ou abaixo deles?
Quem é o melhor jogador de futebol do mundo?

Porque têm uma boa equipa por trás?
Também. E porque é que isso acontece? Porque têm dinheiro. No rugby, no golfe, quem é o melhor? É o que ganha mais, no final do dia é o mercado que fala mais alto. Não vale a pena seres muito bom e ficares com uma bandeira no ar a chamar a atenção. O mercado é que manda. Eu sou o melhor porque sou o que ganho mais.

Os meus restaurantes são feitos para ganhar dinheiro. é o meu negócio e tem que dar para pagar os impostos, pagar empregados e pagar a mim."

O ser bom em cozinha não se mede, portanto, em estrelas Michelin?
As estrelas Michelin são despropositadas para o tempo em que vivemos. Sei que há clientes para isso, há chefs a trabalhar para isso, mas é tudo um erro. Ter uma estrela Michelin exige que o serviço seja de determinada maneira, a garrafeira tem que ser especial, o ambiente também e, por causa disso, os chefs copiam-se todos uns aos outros, fazem todos as mesmas receitas, é um circuito que a mim não me interessa nada. Os meus restaurantes são feitos para ganhar dinheiro. é o meu negócio e tem que dar para pagar os impostos, pagar empregados e pagar a mim.

[Neste momento, pousam-nos os pratos na mesa. Eu pedi a Tasty Thrill, uma salada de tártaro de camarão, abacate, espargos verdes, aipo e cebolinho]

Mas ainda que não seja só cozinheiro, qual é a sua influência nos pratos que são servidos nos seus restaurantes?
Toda. Tenho que estar a par de tudo o que é feito na cozinha. O seu prato, por exemplo, como não é muito pedido, vou ter que provar. Está bom?

Acho que tem tanto abacate que nem se sente o sabor dos outros ingredientes.
E acha muito bem. Pouse os talheres, eu vou fazer essa salada.

[Levanta-se da mesa, entra na cozinha e em dez minutos prepara-me a verdadeira Tasty Thrill, longe da argamassa de abacate da primeira tentativa. Mais camarão, mais espargos, juntou maçã e o toque cítrico que faltava].

E assim me responde à pergunta sobre se ainda cozinhava. Gostava de ter tempo para cozinhar mais?
Há aquela célebre frase do quem corre por gosto não cansa. Eu adoro o que faço e não sei viver de outra maneira. Agora fui de férias nove dias e ia morrendo de tédio. Decidi que só saio de Lisboa, no máximo, quatro dias.

Olivier acredita que vai morrer sentado à mesa de um restaurante

Tem quantas pessoas a trabalhar consigo?
Em restaurantes com a minha marca chegam às 400, em restaurantes meus são umas 140 pessoas.

Sente o peso da responsabilidade de ter essas pessoas todas a seu cargo?
Então não sinto? Às vezes pergunto-me se, caso eu morresse, isto ia para a frente.

Acha que ia?
Acho que não. Os meus filhos ainda são muito novos para aguentar isto, têm só 14 e 16 anos.

Mas gostava de os ver seguir o seu caminho?
Eles dizem que sim, mas eu acho que eles gostavam era de serem parecidos comigo, o que é bem diferente. Sabem lá eles o que é a minha vida. Para ter noção, no domingo estive mais por casa e a minha namorada disse que foi o primeiro domingo desde que estamos juntos em que isso aconteceu. Quer dizer, almocei fora, mas não saí para jantar.

Costuma comer muito fora?
Eu nunca como em casa. Devo comer em casa uma vez de três em três anos e calhou ser este domingo.

Fora os seus, onde é que costuma ir comer?
Vou sempre aos mesmos. Se estiver um dia bom vou ao Monte Mar almoçar na esplanada. Se está mau tempo vou ao Mercado do Peixe.

Mas mesmo com toda a experiência que tem em restaurantes, já viu restaurantes seus fechar.
Nunca.

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Nunca?
Tive restaurantes que eu vendi, são coisas diferentes. E vendi a ganhar muito dinheiro.

Há restaurantes que duram para sempre?
Existem três tipos de restaurante. Os da moda, que duram seis meses, vão decaindo e um ano e meio depois fecham. Os restaurantes do momento, como um Seen, um Yakuza, um KOB, que duram cinco anos. Quando passam esses cinco anos, tens que fazer alguma mudança, ou na ementa, ou na decoração, e se sobreviver a isso e mantiver a faturação, passas a clássico. Os únicos casos à parte dessa necessidade de mudança são o Gambrinus, o Solar dos Presuntos o Ramiro e o Zé da Mouraria. Mas aí são restaurantes únicos, com o dono lá totalmente dedicado àquele espaço. E se eu soubesse o que sei hoje, era isso que tinha feito. Dedicava-me ao Olivier Avenida e ao Guilty e tinha metade das dores de cabeça e metade do trabalho.

Eu marquei um objetivo há três anos que era ter muitos restaurantes e cumpri. Agora marquei um novo que é ir para fora. Quero ir para Miami, Nova Iorque, num conceito maluco, para rebentar com tudo"

Mas metade da piada também.
Nunca me iria sentir completo. Eu marquei um objetivo há três anos que era ter muitos restaurantes e cumpri. Agora marquei um novo que é ir para fora. Quero ir para Miami, Nova Iorque, num conceito maluco, para rebentar com tudo. Estou farto de jogar o campeonato nacional, quero ir à Liga dos Campeões. Um restaurante em Lisboa que fature entre 150 e 250 mil euros por mês já é um grande restaurante, em Miami esse valor pode chegar aos dois milhões por mês. E eu sei que tenho capacidade de o fazer.

Imagina-se alguma vez fora do circuito gastronómico?
Eu vou morrer sentado a uma mesa de restaurante. Eu adoro isto. Não o faço para ser conhecido, eu já nasci famoso por causa do meu pai. Faço-o porque gosto mesmo disto e tenho pena que as pessoas me vejam como uma pessoa que eu não sou. Há quem ache que sou arrogante, mau, têm medo de mim e depois de me conhecerem dizem sempre: "Eh pá, tu afinal és tão diferente do que eu imaginava".

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